segunda-feira, 26 de março de 2007

Ignorantes?



Escutei uma frase essa semana que sinceramente me tirou do sério. Fiquei procurando maneiras de fundamentá-la e de alguma forma tentar achar razão para o que me diziam. Mas não consegui concordar com ela até hoje. Abro então a discussão. Coloco a minha idéia e se alguém quiser, entre, e fique à vontade, para colocar a sua.
Um amigo me disse que "os otimistas são ignorantes". Os otimistas são ignorantes, os otimistas são ignorantes, os otimistas são ignorantes...não, não entra! Fiquei repetindo vezes e mais vezes, mas não consegui entender. O que se entende por otimista? Alguém que tem esperança? Alguém que vê um mundo por uma perspectiva diferente daquela que presenciamos a olho nu, de uma sociedade desigual e injusta? Alguém que vive fora da realidade e não a encara de forma racional? Alguém que acredita no ser humano?

Vejamos.

No ano de 2006, Muhammed Yunus, ganhou o Prêmio Nobel da Paz por criar a iniciativa do microcrédito e levar oportunidades sociais e econômicas para os cidadãos de Bangladesh de baixa renda. Este homem conseguiu, por meio de pequenos empréstimos, tirar milhões de pessoas em seu país da pobreza extrema. Pessimista é o que ele não é, vamo combinar! Yunus é ignorante?

Durante a segunda guerra mundial, uma "ragazza" com os seus 20 e poucos anos, começa a colocar em prática, com algumas amigas, os ensinamentos evangélicos em uma cidade devastada pelas bombas. Descobre em meio aos escombros que todos são chamados à unidade, independente de religião ou classe social. Em pouco tempo vê nascer um movimento que criou pontes de diálogo entre as religiões, uniu povos em guerra, transformou a vida de tantos que viviam no "vazio" e no ceticismo. Hoje, aos 86 anos, Chiara Lubich, com 15 reconhecimentos de Doutorado Honoris Causa, contempla diante dos seus olhos um verdadeiro povo nato daquela espiritualidade emergida em meio à guerra.
São: 141.400 membros, 2.115.000 aderentes e simpatizantes:

dos quais:
cerca de 50.000 de 350 Igrejas e comunidades eclesiais.
mais de 30.000 de várias religiões entre os quais hebreus, muçulmanos, budistas, hindus, sikhs.
mais de 70.000 os amigos de convicções não religiosas.
irradiação: vários milhões de pessoas, dificilmente calculável.


Garanto que pessimista ela nunca foi. E tenho até vergonha de insinuar perguntar se ela é ignorante.


Já um outro, depois de ser tratado como membro de uma raça inferior, iniciou sua longa luta em favor dos direitos civis de todas as raças, foi um líder nacionalista e conquistou para a Índia a independência, mediante uma revolução totalmente pacífica. Você diria que Gandhi é ignorante? Penso que pessimista muito menos.


Ok, Admito. A frase me tirou do sério porque sempre me considerei otimista. E me senti chamada de ignorante. Mas... a crise já passou. Não me considero alguém fora da realidade, sem os pés no chão e ao mesmo tempo não consigo associar o fato de ser agente de mudança em uma sociedade sem ser otimista. Ficam os exemplos para fundamentação das minhas palavras.

Arrivederci!

3 comentários:

Mari Trankila disse...

Humm.... acho que é errado dizer que os otimistas são ignorantes... os pessimistas também não o são...
Otimismo... não é uma forma de tentar camuflar a sociedade dita por alguns como terrível e sem solução... não é tentar se enganar só para dormir bem, com a consciência "tranquila"...
Otimismo é ter coragem de acreditar que o ser humano pode ser bom, pode viver em paz.... é ter vontade de trabalhar para que isso se realize... é pensar não só em mim e no meu umbigo... mas em tantas pessoas que vivem em condições selvagens...
Otimismo é acreditar que EU POSSO MUDAR O LUGAR NO QUAL EU VIVO, UM DIA EU PODEREI VOLTAR PRA CASA SEM TER MEDO DE SER ASSALTADA... depende de como eu interajo com o meu ambiente e de quanto de mim eu doo para o mundo...

Anônimo disse...

Do dicionário:

o.ti.mis.mo
s. m. 1. Disposição, natural ou adquirida, para julgar tudo o melhor possível. 2. Filos. Sistema dos que consideram este mundo o melhor dos mundos possíveis.

pes.si.mis.mo
s. m. Tendência das pessoas que, por índole ou reflexão, são levadas a considerar tudo como um mal.

ce.ti.cis.mo
s. m. Doutrina filosófica dos que duvidam de tudo e afirmam não existir a verdade, que, se existisse, seria o homem incapaz de conhecê-la. 2. Estado de quem duvida de tudo.


Eu acho profundamente apaixonante esse tipo de debate, Cunhadinha.
As pessoas tendem a simplificar questões mais complexas, a buscar “verdades absolutas”. Vão rotulando tudo, na tentativa de estabelecer alguns pontos fixos onde possam se apoiar (e, muito geralmente, alimentar a arrogância do “eu sei do que estou falando, você não”).
Embora não conheça o rapaz que lhe disse isso (“os otimistas são ignorantes”), o próprio fato da generalização simplista já indica alguma soberba. O lance mais bonito do conhecimento é o quanto ele vai nos tornando mais humildes e menos presunçosos em relação a tudo.
As pessoas geralmente vêem os Otimistas (e aqui uso do recurso de “classificar” os otimistas como uma espécie de grupo apenas para facilitar o debate; eu não acredito que tal divisão seja mesmo possível ou completa) como o dicionário as coloca. Mais: eles muitas vezes associam, erroneamente, otimismo com CONFORMISMO. Eles esperam que um otimista veja sempre o lado positivo de tudo e mantenha a “ordem natural” das coisas. Não procure melhorar absolutamente nada.
Para essas pessoas, os Pessimistas são aqueles que olham o mundo com a razão, de maneira mais exata. Isso porque, novamente de maneira muito simplista, exercitam um antagonismo aos Otimistas. Ironicamente, é uma visão maniqueísta do mundo.
O mais legal dos exemplos “otimistas” que você deu (e coloco as aspas porque eles são ainda mais do que o termo pode dimensionar) é que nenhum deles foi/é um conformado. Yunus, Lubich, Gandhi, todos decidiram transformar a sociedade/realidade em que viviam. Eles não eram otimistas na acepção estéril que o dicionário daria. Eram questionadores, decididos e dedicados às causas que defendiam. Viam o que havia de negativo no mundo e optaram por TRANSFORMÁ-LO. E é aí que reside o seu otimismo: a crença inabalável na oportunidade de transformar o mundo em um lugar muito melhor e mais justo. Mais que otimistas, corajosos e fiéis aos próprios princípios.
Com certeza, esses exemplos não podem ser taxados de ignorantes. Se há algo que se pode dizer sobre eles com muita propriedade é que conheciam tremendamente bem a sociedade e as dificuldades pelas quais passavam.
Talvez pudéssemos chamar otimistas todos aqueles que têm como fim último a busca por um mundo melhor. Nesse sentido, quantos “pessimistas” também são otimistas (quem é que faz uma crítica, ainda que amarga, sem o desejo de ver essa realidade mudada para algo melhor?).
Quantos céticos são otimistas! Céticos, claro, na definição que escapa ao dicionário. Eles avaliam tudo, buscando provas concisas. Não se trata de “duvidar de tudo”, mas de reconhecer que sempre há novas coisas por descobrir. Um ceticismo científico é a certeza de que nenhum paradigma é intocável, que sempre podemos aprender mais, entender melhor (e, por isso mesmo, fazer mais pelo mundo).
Temos aqueles otimistas mais escancarados, como você, brilhando intensamente todos esses desejos fraternais maravilhosos, que a sociedade viciada teima em taxar de “sonhos impossíveis”. Temos aqueles otimistas menos evidentes, camuflando (ou munindo) suas esperanças com doses de ironia, sarcasmo e um ceticismo científico e moderado, numa postura provocativa (de quem será que estou falando? Rs). E tantas outras “vertentes de otimismo”. São caminhos diferentes para se chegar no mesmo objetivo.
Se alguém não consegue entender a complexidade disso, se prefere taxar sua profundidade de “ignorância”, só podemos lamentar a miopia do camarada.
Beeeeeeeeijos!!!

Anônimo disse...

Sem muito tempo pra comentários profundos.
Vim só dizer que amei a foto e que um dia serei eu no lugar dele!

Bjo!
TJM!