O CAJUN está caminhando?
Projeto une Prefeitura, comunidade e empresas em torno de um objetivo comum
Logo do lado de fora já é possível ouvir o grito das crianças e a música alta de festa junina que anima o ensaio da coreografia do lado de dentro. Estamos no bairro Sólon Borges, em Vitória, um dos doze a abrigar o projeto social para o qual nos dirigimos, o Caminhando Juntos (Cajun).
O projeto teve suas origens em 1995, com a intenção de disponibilizar, dentro dos próprios bairros, espaços físicos onde crianças e adolescentes em risco social pudessem desenvolver, no horário extra-escolar, atividades culturais e esportivas que as protegesse e resgatasse do apelo às drogas e das ruas.
O Cajun de Sólon Borges, por exemplo, atende hoje a 293 alunos nos períodos matutino e vespertino, e oferece oficinas de música, teatro, capoeira, circo, informática e aulas de educação física. Segundo Feliciano Monteiro, 60, coordenador desse Cajun, o projeto sobrevive com verbas da Prefeitura, principalmente para a manutenção do prédio, e com a importante ajuda das parcerias privadas e não-governamentais, que provêem os materiais necessários para as oficinas, desde tinta a instrumentos musicais. A grande maioria dos funcionários é paga pela Fundação Fé e Alegria. Somente os professores de Educação Física são contratados da Prefeitura.
Ludvig Schneider, 31, é professor de música, e há cinco meses trabalha na unidade de Sólon Borges. Para ele, o mais interessante de fazer parte de um Cajun é poder “atuar na minha área numa função social”.
A unidade de Sólon Borges conta com uma biblioteca, montada por doações, que disponibiliza livros didáticos e para-didáticos para as crianças. Também é oferecido atendimento psicológico e acompanhamento com assistentes sociais, às crianças e às famílias. Para participar, a única exigência é que a criança esteja freqüentando a escola.
O projeto tem reinserido socialmente muitas crianças e adolescentes. 112 deles já foram indicados para trabalho em sindicatos (como o Sindbares) e para a Infraero, e muitos outros participam de iniciativas como o Primeiro Emprego e o projeto Vale Música.
Mas nem tudo são flores. Às vezes, como nos conta o coordenador, é difícil conseguir professores voluntários, já que a maioria deles presta o serviço com a intenção de serem contratados futuramente. Para Feliciano, “Este é o melhor projeto da Prefeitura”, mas o que ela está fazendo não é substancial. “Temos seis professores, enquanto precisaríamos de 12. O problema é que a prefeitura não escuta muito a nossa parte”, afirma.
A receptividade da comunidade é excelente. Ao sairmos do Cajun, encontramos várias moradores da região que só tinham elogios ao projeto, e que inclusive tinham interesse que seus filhos participassem. Parceiros existem, prova mais do que suficiente de que o projeto funciona. Mas, como nos disse Feliciano, “Quando se mistura política com projeto social, a coisa começa a desandar”. Comunidade, prefeitura e instituições privadas unidas em favor de um interesse único. Que esse interesse continue sendo o mesmo por mais algum tempo, não se pode garantir. Mas a tentativa está aí, pra servir de exemplo.
por Cibele Lana e Nadia Baptista